Santa Casa Cancer Center trata tumor do peritônio com quimioterapia aquecida
Na última década houve uma grande evolução tanto no diagnóstico quanto no tratamento de casos oncológicos. Recentemente, o Serviço de Oncologia da Santa Casa de Maceió realizou em Alagoas as primeiras cirurgias de citorredução (CRS), cirurgia para retirada do tumor peritoneal, combinada com quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC), uma quimioterapia altamente concentrada e aquecida, administrada diretamente no abdome durante a cirurgia.
No final de junho, a equipe multidisciplinar do hospital operou um paciente de 42 anos com câncer no apêndice com comprometimento do peritônio (carcinomatose peritoneal mucinosa). “Quando o paciente descobre que tem uma doença no peritônio, em geral, ela já está em estágio avançado. Então, antes desse tratamento, não havia muito a ser feito. A doença era considerada incurável e apenas passível de cuidados paliativos, pois a quimioterapia feita por meio da veia do braço não chegava em níveis terapêuticos ao peritônio. A combinação de CRS com HIPEC trouxe a esperança de controlar a doença, pois, com essa técnica, de forma racional, passou-se a colocar a quimioterapia diretamente no local afetado, promovendo o controle da doença e melhora da sobrevida desses pacientes”, explicou o cirurgião oncológico Aldo Barros.
O tratamento trouxe uma luz para quem sofre de algumas malignidades da superfície peritoneal, tanto as que iniciaram no próprio peritônio (mesoteliomas), quanto as que surgiram em outros órgãos (apêndice ou ovário) com variante mucinosa (caracterizado pela produção de um líquido espesso pelas células do tumor) e enviaram doença ao peritônio. Apesar de ser realizado por alguns poucos centros do país há mais de 20 anos, ele ainda está em análise do Ministério da Saúde para entrar na lista das cirurgias disponibilizada pelo SUS.
A técnica consiste em infundir na cavidade peritoneal uma solução de quimioterapia aquecida a 40-42⁰C, por um período de 30 a 90 minutos, após a ressecção de todo o tumor visível. Com o aquecimento, a célula cancerosa remanescente se “abre” e facilita a entrada do fármaco. O procedimento pode induzir alterações fisiológicas e potencialmente patológicas, com implicações para o cuidado perioperatório, representam um considerável desafio ao anestesista e a toda equipe multidisciplinar. Dada a complexidade, essas cirurgias são bem longas, esta última durou 11 horas.
O sucesso desta cirurgia depende fundamentalmente da interação da equipe médica/multidisciplinar e estrutura hospitalar. “Esse tipo de procedimento só é possível ser realizado em um local com estrutura física adequada e equipe capacitada e eficiente. A Santa Casa de Maceió disponibiliza esses itens, indispensáveis para a segurança e sucesso da cirurgia, e segue pioneira e exclusiva no Estado na realização desta. Quem necessita desse tipo de tratamento, não precisa mais sair do estado”, disse o especialista.
Seleção de pacientes
Obedecer critérios rigorosos de seleção para a citorredução completa é fundamental para alcançar bons resultados. Uma boa saúde de base, sem doença cardiorrespiratória significante, e idade abaixo de 70 anos são condições ideais, mas não indispensáveis. Pacientes com indicação para CRS e HIPEC não devem apresentar progressão de doença durante a quimioterapia pré-operatória, nem doença fora do abdome.
O procedimento é feito em três etapas:
1) Exploração: pode-se começar com uma laparoscopia (cirurgia por vídeo) ou laparotomia (cirurgia aberta) para verificar a viabilidade de retirada de todo o tumor abdominal, se não for factível a cirurgia é interrompida.
2) Citorredução: O cirurgião remove o tumor visível/macroscópico, podendo até envolver a remoção de alguns órgãos.
3) Quimioperfusão: A cavidade abdominal é “lavada” com uma solução quimioterápica aquecida, com o auxílio de uma máquina semelhante a de circulação extra-corpórea.
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