Atuação multiprofissional colhe bons resultados em pacientes com covid-19
O cuidado integral ao paciente diagnosticado com covid-19 na Santa Casa de Maceió tem devolvido a qualidade de vida dos que apresentaram quadros graves da doença. Dias e dias de internação, muitos deles na UTI e com a necessidade de intubação, exigem, além da atuação de médicos e enfermeiros, a intervenção de fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais antes e, em alguns casos, após a alta. Esse trabalho conjunto vem restabelecendo atividades básicas, como respirar, andar e comer sem auxílio e em segurança.
“Os pacientes de covid-19 são muito heterogêneos e vão desde os que desenvolvem sintomas mais leves, que muitas vezes nem precisam do núcleo de reabilitação, até os que têm a forma mais grave da doença, quando necessitam não só de intervenções hospitalares mais complexas, mas, no pós-alta, com a cura da doença, vão precisar de acompanhamento de reabilitação. Geralmente, eles têm perdas reversíveis e terão ganhos progressivos. Diferente de um paciente não covid e com lesão irreversível, ele vai estacionar essa perda. Mas, normalmente, dependendo da gravidade do caso, a recuperação se dará a longo prazo”, destacou a fisioterapeuta Fabrícia Jannine Torres Araújo.
Ainda segundo profissional, foi durante a pandemia que a sociedade descobriu a fisioterapia respiratória. “Tivemos, e ainda temos, uma importância muito grande durante esse período, pois tem sido uma das áreas mais solicitadas. Ela trata das insuficiências respiratórias mais graves que levam os pacientes a precisar de aparelhos para respirar. Essa condução, junto com o médico, é feita pelo fisioterapeuta. A Santa Casa de Maceió, por exemplo, tem uma equipe multiprofissional completa, mas nos hospitais que não dispõem desse time foi necessário chamar profissionais para conduzir os pacientes mais graves”, afirmou.
Quando os pacientes são intubados, eles recebem sedação e, para não interagir com o respirador, precisam de um bloqueador neuromuscular, o que faz com que tenham total paralisação da mecânica respiratória. O ventilador passa a trabalhar por ele. Dessa forma, pacientes hospitalizados sofrem perdas de massa muscular devido ao imobilismo, o que pode prolongar o uso da ventilação mecânica. Nesse contexto, além da fisioterapia respiratório, a fonoaudiologia e terapia ocupacional também dispõem de condutas, dentro de protocolos de segurança hemodinâmica e metabólica, que preconizam preservar ou melhorar a integridade e amplitude das funções cognitivas do paciente.
Fonoaudiologia vai além da comunicação
Na rede de cuidado da Santa Casa de Maceió, a fonoaudiologia é uma das áreas que atuam na reabilitação do paciente. “O foco está no manejo da disfagia (dificuldade para engolir) e redução do risco de broncoaspiração (alimentos, saliva ou qualquer substância aspirada para a via aérea), pois pacientes com dificuldade de respiração ou que tenham feito uso de ventilação mecânica invasiva prolongada apresentam elevado risco de aspirar alimento para os pulmões e desta forma evoluir com agravamento no quadro pulmonar, e isto é tudo o que não queremos. Até o momento, os resultados têm sido muito positivos, sem nenhum registro de broncoaspiração” explica a fonoaudióloga Claudiégina Machado.
A intervenção do fonoaudiólogo no ambiente hospitalar busca avaliar e definir qual a via de alimentação e/ou consistência do alimento é segura para o paciente, reabilitar a função da deglutição, restaurar a qualidade vocal e melhorar a comunicação dos pacientes na fase de recuperação clínica. Estas intervenções são realizadas tanto nas UTIs quanto nos demais setores de internação.
“Pacientes que acabam indo para uma traqueostomia, que é intervenção cirúrgica que abre um orifício na traqueia para a colocação de uma cânula que ajuda na passagem de ar, mas não conseguem desmamar da traqueo ou evoluir o quadro respiratório apresentam alteração com relação a fala, então precisamos trabalhar afim de restabelecer a comunicação”, disse.
Terapia ocupacional trabalha o “fazer o humano”
A covid-19 é uma doença que traz um quadro generalizado de perda ou diminuição da força física, o que pode acarretar problemas no desempenho ocupacional e cognitivo do paciente. O profissional da Terapia Ocupacional (TO) vai desenvolver, elaborar e planejar um tratamento focado nas Atividades de Vida diária (AVDs) – banho, alimentação, vestimenta, auto higiene e etc. -, do paciente, estabelecendo meta e objetivo a serem atingidos de acordo com o quadro do doente. Para auxiliar no tratamento dos pacientes com covid-19 na UTI, foram criadas adaptações chamadas de tecnologia assistida, como posicionadores, com materiais disponíveis nas unidades de terapia intensiva para prever deformidades e feridas.
“O desempenho ocupacional é o “fazer humano”. Esse paciente, geralmente, tem dificuldade de se alimentar, se vestir, fazer sua higienização entre outras atividades que chamamos de atividades de vida diária. No contexto de UTI, quando o caso é mais grave e o paciente está intubado, fazendo uso de oxigênio, a TO intervém com técnicas de redução de carga energética, de posicionamento para deformidades e feridas, e de estímulo sensorial que ativa a circulação. O que queremos é devolver a autonomia, independência e funcionalidade desse paciente e algumas adaptações são necessárias para devolver esse “fazer”, desde o ambiente hospitalar como no domiciliar”, explicou Tarcísio Dionísio, terapeuta ocupacional da Santa Casa de Misericórdia de Maceió e especialista em Hemato-Oncologia e Cuidados Paliativos.
“Vimos vários quadros de pessoas mais jovens com perda funcional maior, e em pacientes mais idosos com comorbidades, apresentarem um nível de comprometimento menor. Todo esse contexto é muito novo. Ninguém numa faculdade é preparado para lidar com uma pandemia. O enfrentamento foi um auxiliando o outro, mas foi muito rico em conhecimento no contexto profissional”, avaliou o terapeuta ocupacional.
Deixe uma resposta