Santa Casa de Maceió otimiza abastecimento e consumo de insumos para intubação
Os hospitais privados brasileiros seguem enfrentando os obstáculos da complexidade no tratamento de casos graves com covid-19. A escassez de medicamentos para a sedação na UTI provocou instituições como a Santa Casa de Maceió a aprimorar as relações de compra e de uso de fármacos para garantir a qualidade da sedação de pacientes que chegam a ficar mais de 15 dias intubados.
O planejamento para abastecer os estoques do hospital precisou ser reorganizado para atender os pacientes com e sem covid-19. “No início da pandemia tivemos problemas com a falta de EPIs. Num segundo momento, a dificuldade era com o estoque de sedativos e bloqueadores musculares utilizados em UTI. Essa situação está perto de se repetir, então foram necessárias ações difíceis como a redução das cirurgias, principalmente as eletivas, além de buscar, de todas as formas, o uso racional desses insumos. Contamos com o apoio da equipe da Farmácia, que avalia as prescrições e tenta achar alternativas, e o auxílio dos anestesistas que atuam em parceria nessa atividade e orientam os médicos intensivistas”, disse o superintendente de Suprimentos, Severino Moura.
Com o estoque de segurança de diferentes medicamentos tem sido possível realizar associações que mantêm o paciente sedado com o maior conforto possível. “O nosso principal ponto com relação ao abastecimento e manutenção dos estoques é manter a sedação multimodal (uso de três classes de anestésicos) junto das equipes de anestesistas e intensivistas do hospital. Ela garante uma qualidade melhor na sedação, e que o paciente estará no ideal do protocolo. Conseguimos promover essa sedação fornecendo todos os medicamentos prescritos dentro do nosso protocolo”, destacou a coordenadora da Farmácia, Lizete Vitorino.
Com um arsenal de drogas maior do que o utilizado nas UTIs, o papel do anestesista mudou no país inteiro. O protocolo criado na Santa Casa de Maceió pelos anestesiologistas Sílvio Marcos Lima dos Santos, Roberta Brandão e Natália Fernandes Sarmento, mostrou aos intensivistas que outros medicamentos poderiam ser usados em sistema de rodízio para evitar a resistência dos pacientes à droga, bem como o aumento de consumo. Os resultados têm sido muito positivos.
“Até bem pouco tempo usava-se apenas um tipo de sedação padrão. Mas o paciente covid-19 é totalmente diferente dos outros pacientes que precisam de intubação. Além do pulmão, a doença atinge o coração, o sistema nervoso central e os rins, exigindo doses diferentes dos fármacos (sedação multimodal). Como os pacientes infectados passam, em média, mais de 15 dias intubados, o uso dessas drogas acontece de forma prolongada e algumas delas começam a se acumular no corpo dificultando o momento da extubação”, disse o anestesiologista do hospital, Sílvio Marcos dos Santos.
Existe uma diferença entre sedação e anestesia. Na primeira, a consciência do paciente é retirada. Já na anestesia, além da consciência, é retirada a dor e paralisada toda a musculatura para que o paciente possa aceitar o respirador, que vai injetar, mecanicamente, ar nos pulmões. “Se isso for feito com o paciente acordado vai causar um sofrimento muito grande. No paciente covid, que passa muito tempo no leito e sente dores nas pernas e braços, quando algo o incomoda ele fica agitado, por isso é necessário utilizar drogas que tirem a dor fazendo quase que uma anestesia. Nos pacientes que estão pronados (deitados de barriga para baixo), o pescoço, a orelha e a coluna também doem”, disse o especialista.
Com a nova dinâmica de compras, o abastecimento tem sido feito há cada 30 dias, mas a tendência é que essa entrega seja cada vez menor. Em março, o hospital fez a compra antecipada de 4 mil ampolas de um determinado anestésico, mas a fabricante avisou que só poderá entregar 200 unidades em meados de abril devido à requisição administrativa do governo federal, que solicitou todo o estoque de medicamentos usados para intubar pacientes.
“Isso tem deixado os hospitais privados preocupados. Tanto que estamos buscando alternativas como a importação conjunta para não dependermos do fabricante nacional. Com o aumento do consumo, houve também o aumento de preço. No ano passado, os custos giravam em torno de 20% a mais sobre as compras de insumos em função da pouca oferta de medicamentos. Alguns anestésicos, por exemplo, subiram mais que o dobro”, disse Moura.
Ainda segundo o superintendente, setembro e outubro foram as fases mais críticas de desabastecimento nos hospitais brasileiros. Desde então, o hospital se preparou para ter um estoque de segurança e passar por momento semelhante ao vivido em 2020 com menos dificuldades. “Temos acompanhado o noticiário nacional e participado das ações junto à Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) e da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP). A última entidade, inclusive, fez uma pesquisa com os 106 hospitais privados associados e mostrou que o estoque médio deles daria apenas para cinco dias. A Santa Casa de Maceió não está nessa lista por ter se preparado melhor para ultrapassar este momento com mais tranquilidade”, disse o gestor.
Apesar dos esforços da instituição para a manutenção de estoques em níveis seguros, não há tranquilidade entre a administração e o corpo clínico dos hospitais. “Nossos estoques eram planejados para cirurgias e pacientes eletivos que estavam em UTI. Com a covid, mensalmente, chegamos a aumentar o consumo de analgésicos de intubação em oito vezes”, finaliza a coordenadora da Farmácia, Lizete Vitorino.
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