Santa Casa de Maceió realiza primeiro transplante de fígado em Alagoas
Seis horas de cirurgia marcaram o primeiro transplante de fígado realizado em Alagoas, na última nesta sexta-feira (14), na Santa Casa de Maceió. O procedimento está na lista das cirurgias mais complexas do mundo e necessita de uma equipe multidisciplinar bem treinada. A instituição alagoana é a única credenciada pelo Ministério da Saúde para esse tipo de intervenção cirúrgica no Estado.
Coordenado pelo médico Oscar Ferro, o grupo formado pelos cirurgiões Felipe Augusto Porto e Leonardo Wanderley Soutinho, e pelos anestesistas Cira Queiroz e Danillo Amaral, operou um paciente de 57 anos, vítima de cirrose, em decorrência de uma hepatite B. Até esta segunda-feira (17), o paciente tem evoluindo de forma satisfatória. “Exames mostram que o fígado implantado está funcionando plenamente. O paciente está se recuperando bem, conversando, e tem a perspectiva de sair da UTI em dois dias”, disse Ferro.
Com o início das atividades do Programa de Transplante de Fígado, a Santa Casa de Maceió abraça todos os níveis de complexidade cirúrgicas com o transplante de rim e de coração. “Mais importante que o pioneirismo, é poder ofertar essa modalidade terapêutica, sem distinção, para todos os alagoanos pelo SUS. Está de parabéns todo o hospital pelo esforço científico que fez para esse momento, toda equipe que se dedicou estudando e trabalhando durante meses para dar início ao Programa de Transplante de Fígado, e o Governo e Alagoas por ter acreditado na medicina do estado e em nossa Santa Casa de Maceió”, disse o diretor médico da Santa Casa de Maceió, Artur Gomes Neto.
Para estar apto para o transplante, o paciente precisa ter insuficiência hepática comprovada pela escala MELD – Modelo para Doença Hepática Terminal, do inglês Model for End-Stage Liver Disease, que quantifica a urgência de transplante hepático em pacientes maiores de 12 anos.
“Nem todo paciente que tem cirrose necessita de transplante. Entre os pontos avaliados estão os níveis de bilirrubina, creatinina, INR e o nível do sódio. Isso vai nos dar um score que caracteriza se há indicação para o procedimento ou não. Fechado o diagnóstico de insuficiência hepática, também precisamos saber o tipo sanguíneo que esse paciente tem, pois é isso o que vai determinar qual receptor ele vai ser absorvido. Além disso, são solicitados todos os procedimentos pré-operatórios para pacientes de cirurgias de grande porte”, destacou Oscar Ferro.
Para o pleno funcionamento do programa, a família de pacientes com diagnóstico de morte encefálica confirmado tem papel fundamental. Mensagens por escrito deixadas pelo doador não são válidas para autorizar o procedimento. O processo de retirada de qualquer órgão só acontece após os familiares darem o aval da cirurgia, assinando um termo.
“O diagnóstico de morte encefálica é extremamente seguro. Se houver dúvidas, ele não é dado. O doador passa por uma avaliação neurológica e faz um exame complementar de imagem (doppler transcraniano) para fechar a análise”, explicou o cirurgião Felipe Augusto Oliveira.
Após a autorização para a doação dos órgãos, exames complementares foram realizados para checar se o organismo da doadora, uma enfermeira de 42 anos, estava funcionando bem. Com os resultados positivos, o paciente recebeu o novo órgão 48 horas depois do início dos trâmites. Além do fígado, as córneas e os rins da doadora também foram retirados e enviados para São Paulo.
EXCELÊNCIA – Durante cinco anos, a Santa Casa de Maceió realizou apenas a captação de fígado (cirurgia de retirada) e enviava o órgão para outros estados. A excelência desse trabalho despertou a atenção da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), que apoiou o hospital alagoano, e do Ministério da Saúde, que o incluiu na rede de hospitais que já realizam transplantes no Brasil.
“O programa de transplante de fígado estava previsto para ser iniciado no final de 2020, mas, devido à pandemia, uma pausa foi necessária. Foi preciso fazer uma pausa até que tudo se organizasse. É um grande passo que demos na medicina alagoana. Acredito que todos ganham com esse procedimento: a instituição Santa Casa de Maceió, que soma mais uma grande vitória; nós médicos, que evoluímos profissionalmente; e, principalmente, os pacientes portadores de cirrose, que passam a ser acolhidos em nosso estado”, afirmou o cirurgião Oscar Ferro.
No Brasil existem 27 centros de notificação integrados. Os dados informatizados do doador são cruzados com os das pessoas que aguardam na fila pelo órgão para que o candidato ideal, conforme urgência e tempo de espera, seja encontrado em qualquer parte do país.
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