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A história real de um pai e um filho que nasceram de novo (*)

Após o café da manhã, oferecido pela Santa Casa de Maceió em homenagem ao Dia dos Pais, um colaborador decidiu compartilhar, de forma anônima, um fato que marcou sua vida e a de seu filho e que serve como uma importante lição para todos os que são ou que pensam um dia ser pai. Segue o relato:
“Certo dia – o qual ainda hoje tento esquecer – estava eu lavando os pratos do jantar enquanto minha esposa dormia. Já era bem tarde. Para minha surpresa, meu filho de quatro anos ainda estava acordado, esperando eu chegar do trabalho. Dei aquele abraço afetivo e em troca ganhei um beijo. Após o jantar, fui lavar os pratos. Meu filho, como sempre, pediu para subir na bancada de aço da pia da cozinha. Ele gostava de conversar sobre a escola e os acontecimentos em casa.
De repente ele se calou, veio o silêncio.
Ao olhar para ele, o vi encostado na parede, estático, com os olhos abertos como se estivesse olhando o horizonte. Os lábios não se moviam, ele estava paralisado.
De repente, como num flash, lembrei do pino de um antigo eletrodoméstico que havia ficado na tomada e que todo dia prometia a mim mesmo que iria retirar do local. Naquele instante meu filho estava recebendo uma descarga elétrica. Sem pensar nas conseqüências, o agarrei com as mãos e o puxei. Foi Deus. Mesmo molhado, não recebi a descarga elétrica. Repito que foi Deus porque, sem saber, consegui puxar meu filho sem tocar na pia de aço. Isso evitou que eu ficasse grudado junto com meu filho.
Ainda hoje tento esquecer aquela cena: meu filho, um menininho franzino e frágil, desacordado em meus braços, por causa de uma irresponsabilidade. Pior, o irresponsável era eu. Ainda hoje me condeno por aquilo e me flagro chorando.
Desesperado, acordei minha esposa sem nem conseguir falar o que estava acontecendo. Ela, por sua vez, também se desesperava ao ver nosso filho desmaiado em meus braços. Naquele momento de angústia, que perdurou por breves minutos, algo me dizia que era preciso abrir a boca de meu filho e deixar a língua solta. Enrijecida pelo choque elétrico, a boca não abria. Forcei sua abertura e mantive um de meus dedos como estaca enquanto alguém trazia algum outro objeto. Não importava a dor era preciso que ele respirasse. Alguma coisa me dizia também que era preciso pressionar a caixa torácica para fazer o pulmão funcionar e foi o que fiz.
Em seguida lembrei do hospital próximo a minha casa. Minha esposa sugeriu que o colocasse no banco traseiro para que eu pudesse guiar o carro. Ainda assim, alguma coisa me dizia que eu não podia largá-lo. Se o fizesse, sua boquinha podia fechar novamente. Aí, não pensei duas vezes, pedi que abrissem o portão e saí em passo apressado, com meu pequeno filho nos braços, em direção ao hospital. No caminho continuei as massagens na região torácica até que, próximo do hospital, um vizinho ofereceu carona para terminar o percurso.
Antes de entrar no hospital tentei reanimar meu filho, chamando seu nome diversas vezes e pedindo que conversasse comigo. Ele começou a despertar do desmaio, abriu os olhos e respondeu com a cabeça que estava bem. Sorri de felicidade. Vi naquele momento que era Deus quem estava me guiando. Ele estava me dando a chance de ser pai de novo. Quatro anos antes meu pequeno filho nasceu um dia do ventre de minha amada esposa. Agora, ele nascia de novo, sendo que nos meus braços.
E, hoje, o que ficou de tudo isso? Em meu filho, uma pequena marca nas costas, praticamente invisível. Em mim, a certeza de que não se deve deixar para amanhã o que se pode e se deve fazer hoje.
Por exemplo, não deixe para amanhã o abraço que você pode dar em seu filho hoje. Vê-lo gritando “Papai! Papai!”, correndo ao seu encontro ao chegar do trabalho, é mais valioso que as horas extras de um serão após o expediente.
Ter seu filho no colo durante a refeição é mais importante que ter a companhia do chefe na hora do almoço. O jogo de bola com seu filho, após um cansativo dia de trabalho, traz mais benefícios físicos que a pelada com os amigos. Contar histórias e pôr o filho para dormir é, de longe, mais importante que enchê-lo de presentes.
Enfim, não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje, afinal, um dia eles crescerão e baterão asas. Aí você saberá que momentos como estes jamais se repetirão, permanecerão apenas em suas memórias.”

(*) O relato acima é de um colaborador da Santa Casa de Maceió que, por questões pessoais, preferiu não se identificar.

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