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Oncologista Divaldo Alencar

Como o próprio título indica, a entrevista trata, de forma pedagógica, de um dos mais terríveis inimigos da saúde humana: o câncer em suas diversas formas. Em entrevista à repórter Luciana Martins, o oncologista clínico Divaldo Alencar, da Santa Casa de Maceió, explica em linguagem acessível o que é a doença, como ela se desenvolve, descreve as formas de tratamento e ensina o que se deve fazer para preveni-la.

Quais os tipos de câncer com maior incidência em Alagoas?
Alagoas não difere muito do índice nacional. Os tipos de câncer mais freqüentes são o de mama, de próstata, do colo do útero e o de pulmão. Esses quatro são os mais freqüentes, mas pode-se incluir também o do intestino grosso, que ocupa a 5ª posição.

Quantas pessoas morrem de câncer por ano no Estado?
A análise de mortalidade não é tão precisa para a gente descrever, mas em Alagoas o câncer está em 3º lugar. Primeiro são às doenças cardiovasculares, depois causas externas (por exemplo, traumas e violência) e em 3º lugar o câncer. No mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já coloca o câncer em 1º lugar em causa morte a partir de 2010.

A doença incide mais nos homens ou nas mulheres?
É muito próximo. Nos cânceres mais freqüentes como o de mama e de próstata, os dados de 2008 no Brasil apresentam 50 mil novos casos de câncer de mama e um pouco mais de 49 mil novos casos de câncer de próstata. Então você vê que os valores são muito aproximados e a gente vê um consumo maior de fatores de risco, como cigarro, principalmente na população masculina. Provavelmente os tipos de câncer como de pulmão e do estômago (que estão relacionados com o cigarro) são mais significativos nos homens.

Existe prevenção para todo tipo de câncer?
Não, porque nem todo tipo de câncer tem fatores de risco, mas para a maior parte, os mais freqüentes, sim. Se houver uma boa campanha de prevenção e o rastreamento precoce a gente consegue diminuir a mortalidade em torno de 40%. São dados da OMS. Cerca de 60% dessa prevenção a gente consegue fazer com o combate ao tabaco. O controle da obesidade e a melhora na alimentação ajudam a aumentar a chance de não se ter o câncer. Com o combate ao cigarro a gente consegue prevenir em 95% o câncer de pulmão. No câncer do colo do útero a gente também consegue prevenir diminuindo a exposição ao HPV – vírus sexualmente transmissível; o câncer de mama a gente não tem uma prevenção definida, mas por meio da mamografia a gente consegue detectar a doença precocemente; o câncer de intestino a gente tem uma prevenção com a diminuição do consumo da carne vermelha, aumento de alimentos com maior quantidade de fibras, redução da ingestão de gorduras e também com o rastreamento precoce com o uso da colonoscopia ou do sangue oculto nas fezes que contribuem na detecção mais precoce desse tipo de câncer. Através dessas prevenções a gente consegue diminuir a mortalidade. Se não tem para todos, pelo menos para os mais freqüentes atualmente temos prevenção e diagnóstico.

O que se pode fazer para evitar a doença?
O aumento da doença está ligado à ‘industrialização da vida’, a vida moderna, e uma boa parte desses hábitos que estamos adquirindo tem facilitado o aparecimento da doença. Em nossa região, com a alta incidência solar, é importantíssimo o uso de filtro solar para evitar o câncer de pele, que é o mais freqüente no ser humano, isso quando a gente o exclui do grupo dos corpos sólidos. Aqui a incidência desse tipo de câncer é muito grande e por isso o uso do filtro solar é indispensável, bem como a exposição ao sol nos horários adequados. Melhorar a alimentação com a diminuição de carne vermelha, comer mais frutas e alimentos com fibra, evitar o fumo e aumentar a hidratação com o consumo de bastante água também ajudam a prevenir a doença. As medidas de prevenção como fazer uma visita anual ao dentista, para evitar o câncer de boca; mulheres a partir dos 50 anos fazer uma mamografia a cada 2 anos; o homem deve visitar o urologista a partir dos 40 anos para conversar sobre as medidas de prevenção do câncer de próstata; a partir dos 50 anos a gente já tem o sangue oculto nas fezes ou a colonoscopia para detectar precocemente o câncer de intestino grosso também devem ser seguidas. Com essas medidas, a gente consegue evitar e/ou detectar precocemente a doença.

Qual o tratamento mais empregado nos pacientes de câncer?
O tratamento de câncer engloba três situações: a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. Quando se detecta o câncer o primeiro passo é procurar um cirurgião oncologista. Hoje em dia a gente tem estratégias para facilitar a cirurgia com a realização da quimio e da radioterapia antes da cirurgia para que essa cirurgia seja realizada com mais tranqüilidade. Caso já esteja operado deve-se fazer a quimio e a radioterapia. A gente observa que essa tríade é a principal forma de tratamento, nenhuma delas predomina sobre a outra. Algumas pessoas poderão usar os três tipos de tratamento, enquanto outros não, isso vai depender do estágio em que foi diagnosticada a doença.

Existe algo mais eficaz e moderno do que a quimioterapia?
A quimioterapia é um conceito amplo, todo medicamento e/ou substância química que trate o câncer é considerado quimioterapia. Hoje a gente vê surgindo uma quimioterapia que a gente chama drogas alvo, são medicamentos que agem diretamente na célula que tem o problema. O problema da quimioterapia e da radioterapia é que elas agem em toda aquela área que ela foi usada: células boas e células ruins vão estar sofrendo. Então, o caminho hoje do tratamento da oncologia é justamente usar a molécula alvo, elas vão direto à célula que já tem o problema. A gente conhece esse tratamento como quimioterapia alvo. Em Alagoas esse tipo de tratamento já está disponível a população.

Em síntese, o que é o câncer?
O câncer é quando uma célula do nosso corpo acaba tomando um caminho errado, ou seja, aquela célula começa a pensar mais nela do que no trabalho conjunto e acaba se desenvolvendo de forma mais acelerada. Você tem uma célula que acaba gerando um crescimento mais rápido, ela não morre e pode se perpetuar, principalmente, quando aquela célula, no seu lugar, começa a se espalhar pelo corpo que é a capacidade de fazer metástase. Você vê uma determinada área querendo crescer mais, receber mais alimentação que os outros, esquecendo a sua função e comprometendo o funcionamento do corpo.

Como ele se desenvolve?
A partir de uma célula normal do nosso corpo com fatores predisponentes, normalmente, com uma infecção, por exemplo, que é caso do colo do útero, ou o cigarro, fazendo com que aquela célula tenha um mecanismo de modificação do seu intuito e a partir daí ela comece a se desenvolver de forma anárquica e acelerada.

É genético, hereditário?
Ele pode ser relacionado ao histórico familiar, mas a origem hereditária é menos comum que o fator esporádico, ou seja, a gente vê no câncer de mama que tem uma historia bem relacionada com a família, apenas de 10 a 15% dos casos que realmente tem origem hereditária. A maior parte ainda é de exposição ao nosso dia a dia, somos nós que vamos estar fabricando. Claro que pessoas num mesmo ambiente, expostas aos mesmos fatores de risco não vão ter o mesmo tipo de câncer porque cada organismo é diferente de uma pessoa para outra e esse é o outro lado genético, a facilidade que cada pessoa tem.

A cura do câncer freqüentemente anunciada por igrejas evangélicas merece crédito ou é tudo enganação?
Não consigo ver isso como enganação. Eu acho que toda fé é válida, acredito nas forças superiores, mas a gente tem que fazer a nossa parte. Acredito que a pessoa tem que manter a sua religiosidade, a sua crença, toda forma de auxílio nesse momento é importante e a igreja tem um papel fundamental de dar esperança, de manter ele na batalha, mas não exclusivamente só dessa forma. Nós temos que fazer a nossa parte para que o "Rapaz" lá de cima nos ajude. O tratamento hoje é multidisciplinar, a gente vê o paciente junto com a família passar pelo médico, pelo nutricionista, pelo terapeuta ocupacional, pelo psicólogo, pela fisioterapia e é claro que ele deve manter as suas práticas religiosas, manter seus hábitos de vida, para que a gente consiga durante esse tratamento ter uma qualidade de vida e uma força para passar por essa batalha.