Checklist de cirurgia segura: Elo entre a aviação e o ambiente hospitalar
Entre os dias 15 e 17 deste mês, profissionais da saúde participaram do “Workshop Cirurgia Segura”, que fez um paralelo entre as realidades da aviação e do centro cirúrgico. Promovido pela Johnson-Johnson, em parceria com Santa Casa, o evento teve como objetivo apresentar o protocolo de implantação de cirurgia segura na instituição alagoana.
Como facilitador no workshop, Steve B. Montague compartilhou um pouco de sua experiência ao longo de 35 anos na aviação, destacando as semelhanças da área com o ambiente hospitalar. Segundo ele, o cockpit de um avião guarda alguma semelhança com o centro cirúrgico. “Os dois universos investem continuamente no treinamento de equipes, em protocolos seguros e em tecnologias que garantam a segurança de seus clientes. Na aviação, os passageiros; no hospital, os pacientes”, destacou o ex-aviador naval americano, consultor e atual vice-presidente da LifeWings.
Segundo a gerente coorporativa de Riscos e Práticas Assistenciais de Riscos, Dra. Tereza Tenório, a expectativa de público foi superada já no primeiro dia do evento. “Esperávamos que pelo menos 50 pessoas comparecessem, mas esse número foi ultrapassado. No primeiro dia, mais de 60 profissionais assistiram à palestra. Uma turma mesclada, formada 80% por médicos, com a presença de cirurgiões, anestesistas, clínicos e intensivistas. Além dos profissionais da unidade sede, tivemos também da unidade Farol e da Maternidade Nossa Senhora da Guia”, destacou.
Com base no perfil epidemiológico da instituição, a Prevenção à Sepse foi o primeiro protocolo de segurança implantado na Santa Casa. “Tem mais ou menos três anos que trabalhamos com ele. Em relação às taxas anteriores, conseguimos uma redução de 60% da mortalidade em pacientes que adquiriam sepse. Com esse novo protocolo de Cirurgia Segura queremos repetir essa façanha. Temos outros protocolos pontuais, mas esse é o segundo institucional e sabemos que a interação com os profissionais presentes nós poderemos melhorar, ainda mais, a segurança dos pacientes da Santa Casa Maceió”, ressaltou a Dra. Tereza Tenório.
O Workshop trata-se da primeira edição, na América Latina, do projeto Cirurgia Segura chancelado pela Johnson & Johnson (J&J) e LifeWings. A J&J é a sexta maior empresa do mundo em saúde do consumidor, com mais de 250 empresas operando em 60 nações e comercializando seus produtos farmacêuticos, biológicos e de diagnóstico em 175 países. Já a LifeWings atua no mercado hospitalar americano na concepção e implementação de programas de segurança do paciente.
Importância da comunicação
Para o Dr. Hélvio Chagas Ferro, intensivista da Unidade Farol, o encontro terá grande peso para o seu trabalho, bem como no de toda a comunidade médica da Santa Casa de Maceió. “Cirurgia segura parece algo simples, mas é bem complexo. Você tem que mudar atitudes, modelos, incorporar ideias novas e fazer com que as pessoas abandonem as antigas ideias, o que é mais difícil. O novo modelo é simples, mas precisa ser medularizado para que o profissional o execute automaticamente tornando o procedimento mais seguro. Esse projeto vai beneficiar médicos e pacientes”, destacou.
Ainda segundo o médico, ter um piloto da força aérea americana como palestrante foi muito valioso, pois o checklist começou na aviação. “A checagem ajuda a diminuir os riscos. O número de acidentes aéreos, por exemplo, caiu para 0,58 a cada um milhão de decolagens, após a implantação do checklist, não importando o modelo do avião. Nos hospitais, a prática garante muito mais segurança para médicos e pacientes”, concluiu o Dr. Hélvio Ferro.
Responsável pela Residência Médica em Ortopedia, Antônio Alício Oliveira, destacou a oportunidade de sensibilizar todos os que trabalham na linha cirúrgica. “É necessário uma comunicação estruturada, um checklist, para se ter uma cirurgia segura. Se todos se conscientizarem dessa necessidade teremos uma redução significativa dos erros e dos eventos adversos nos procedimentos cirúrgicos”, disse o cirurgião.
“Quem fica dentro de um centro cirúrgico, como os cirurgiões, enfermeiros e anestesistas, precisam ter uma comunicação eficiente para resultados positivos. Isso reforça a qualidade da segurança dos nossos pacientes”, reforçou a supervisora da linha cirúrgica, a enfermeira Ana Carla Barbosa Guedes.
Cultura organizacional
Nos três encontros do workshop, Steven B. Montague deixou a seguinte mensagem: “Os profissionais que atuam no centro cirúrgico precisam ter a capacidade de levantar a mão e alertar a equipe sobre os riscos em potencial que existem nos processos que envolvem o seu trabalho. Se todos tiverem essa autoridade, você consegue minimizar os riscos”, decretou Steven, em tradução livre de Maurício Monteiro.
E acrescentou: “É uma questão de cultura organizacional. A empresa deve estimular seus profissionais a não terem medo de falar em prol da segurança. As pessoas não são infalíveis, existem vulnerabilidades individuais que são naturais do ser humano, daí a importância de todos estarem atentos para que se reduza a possibilidade de erros”, disse o consultor americano, com a expertise de quem atuou em mais de 60 hospitais nos últimos 12 anos.
Perguntado se os cirurgiões não teriam receio em perder sua autoridade dentro do campo cirúrgico, Montague admitiu que esse fenômeno ocorreu com os pilotos da aviação, mas enfatizou que não se trata de perder ou não autoridade, mas poder focar suas atenções no seu trabalho especificamente e permitir que todos possam ajudar a tornar o processo mais eficiente.
Questionado ainda sobre o que une as áreas de aviação e saúde, o ex-aviador naval e ainda capitão da aviação civil dos Estados Unidos frisou que as duas áreas precisam investir em segurança para preservar a vida e a confiança de seus pacientes.
“Ao embarcar num avião ou internar-se num hospital os passageiros e pacientes entregam suas vidas nas mãos de profissionais qualificados que devem pautar seu trabalho pelo fator segurança. Como a aviação foi pioneira na implantação de protocolos de segurança, então os profissionais deste setor passaram a difundir sua larga experiência também no setor saúde. Em resumo: as vidas das pessoas dependem da segurança, tanto na aviação quanto no ambiente hospitalar”, respondeu.
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