ARTIGO: Protegendo os rins, salvando seu coração
"No último dia 10 de março foi comemorado o Dia Mundial do Rim, um evento anual criado pela Sociedade Internacional de Nefrologia e pela Federação Internacional de Fundações do Rim. Desde a sua origem, em 2006, a data vem adquirindo cada vez mais importância em todo o mundo.
Atualmente, o Dia Mundial do Rim é o mais importante evento em escala global dedicado à conscientização da população e das autoridades governamentais sobre a doença renal, em particular a doença renal crônica.
Estima-se que até 10% da população apresente algum grau de doença renal, podendo esse número ser até maior em países em desenvolvimento, como o Brasil.
No momento estima-se que mais de 10 milhões de pessoas no Brasil sofrem de doença renal crônica em diferentes estágios e que mais de 90 mil estão sob terapia renal substitutiva dialítica ou à espera de transplante de rim.
A tendência é que esses números sejam ainda maiores ao longo dos próximos anos devido ao aumento da prevalência de doenças crônicas como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, obesidade e dislipidemia. Todos os pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica, diabetes, tabagistas, obesos, com história familiar de doença renal e com passado de doenças do trato urinário devem ser investigados precocemente para prevenir a doença renal.
Nesse ano, o Dia Mundial do Rim enfatizou o significativo, embora frequentemente subestimado, papel desempenhado pela disfunção renal no aumento da doença cardiovascular, a causa mais comum de morbimortalidade no mundo. A doença cardiovascular é responsável por 30% de todas as mortes no mundo.
A presença de doença renal crônica aumenta significativamente o risco de um evento cardiovascular (infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, aneurisma de aorta), tanto em pacientes diabéticos quanto em pacientes com hipertensão arterial sistêmica.
Vale ressaltar que o diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica são as maiores causas do desenvolvimento da insuficiência renal crônica. No entanto, ainda é pouco valorizado o fato de que a doença renal crônica sozinha é um forte fator de risco para o aparecimento de doenças cardiovasculares, a despeito da existência de diabetes e hipertensão ou qualquer outro fator de risco convencional para doença cardiovascular. Hoje já se conhece que esse aumento de doença cardiovascular é 20 a 30 vezes maior nos pacientes com doença renal avançada.
Felizmente, também há boas notícias. O diagnóstico precoce da doença renal pode modificar e retardar o curso dessa doença, além de reduzir o risco do aparecimento de eventos cardiovasculares. Os biomarcadores da doença renal crônica que são a proteinúria e a taxa de filtração glomerular, esse último medindo o grau e estágio da doença renal crônica, são de fácil detecção e de baixo custo. A proteinúria é um excelente marcador porque já aperece cedo na evolução da doença cardiovascular.
Assim, programas de detecção e prevenção tendo o rim como alvo parecem oferecer uma valiosa oportunidade para a instituição de medidas preventivas precoces que vão além das tradicionais medidas cardioprotetoras.
Hoje temos provas irrefutáveis de que a inclusão de um programa de triagem seletiva para doença renal crônica em programas de saúde pública destinados primariamente à redução de doenças cardiovasculares pode melhorar de forma significativa os desfechos não só da doença renal, mas, sobretudo de doenças crônicas como diabetes e doenças cardiovasculares.
Precisamos alertar e convidar a todos, profissionais de saúde, sociedade, pacientes, instituições e gestores públicos para que a discussão abordada no Dia Mundial do Rim se torne um alerta diário para o aprofundamento da prevenção da doença renal crônica."
(*) Dr. Rodrigo Peixoto Campos é médico nefrologista da Santa Casa de Misericórdia de Maceió
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