SUS causa prejuízo de R$ 10 milhões à Santa Casa de Maceió (*)
A Santa Casa de Maceió contabilizou um prejuízo de R$ 10 milhões em 2008, causado pelo atendimento aos pacientes do SUS cuja tabela de remuneração aos hospitais (e aos médicos) continua engessada. A revelação é do provedor Humberto Gomes de Melo em entrevista à repórter Luciana Martins, do jornal PRIMEIRA EDIÇÃO. O prejuízo foi coberto pelas operadoras de saúde. Os doentes do SUS ocupam 63% dos leitos da Santa Casa, que interna cerca de 1.500 pacientes/mês do Sistema Único. Humberto Gomes revela o crescimento da instituição, a relação com Estado e Município (Maceió é o gestor do SUS) e admite que a gripe suína está sob controle em Alagoas. Ele também lamenta o baixo número de usuários alagoanos com planos de saúde.
– Quantos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a Santa Casa atende, em média, por mês?
– A Santa Casa atende uma média de 1.500 pacientes/ mês e a ocupação dos nossos leitos por pacientes do SUS é de 63%. Salvo engano, em 2008 foram 5.700 atendimentos de SUS. Além das internações, atendemos também a parte ambulatorial. As internações pelo SUS representaram quase 35 mil leitos ocupados durante o ano passado, nas várias especialidades, e tivemos um déficit de mais R$ 10 milhões, que foi coberto pelas operadoras de saúde. Os casos mais críticos são dos pacientes que sofrem Acidente Vascular Cerebral (AVC) e dos portadores de câncer.
– O SUS já corrigiu sua tabela de remuneração aos hospitais?
– Não. Continuamos atendendo em função do ProHospi e de algumas especialidades que ficaram fora das internações eletivas cirúrgicas, suspensas desde julho do ano passado, e que foram permitidas pelo sindicato dos médicos. São os casos de cardiologia. Continuamos fazendo as internações e atendendo os pacientes vindos da HGE. Nós temos tido um prejuízo grande por atender SUS, mesmo com o subsídio que nós recebemos por sermos um hospital filantrópico, esses valores não cobrem o que gastamos nos custos com atendimentos do SUS. Desde maio, encaminhamos a nossa proposta para a contratualização, isso vem sem discutido.
– Como está a relação entre os hospitais particulares e os governos estadual e municipal?
– A relação sempre foi muito boa tanto com o município quanto com o estado. Como nossa sede é em Maceió, o Sistema Único define que o relacionamento do prestador deve ser com um único gestor, na sede onde está a matriz da empresa, por isso a nossa relação deve ser maior com o município de Maceió. Ele é que faz contratualização, faz o pagamento, as auditorias e a fiscalização nos hospitais. As dificuldades que se encontram são em função dos tetos financeiros e da demanda que é muito grande. Hoje os médicos não estão querendo mais atender pelo SUS porque a remuneração é irrisória.
– É verdade que a Santa de Maceió vai atender pacientes do SUS em casos de alta complexidade?
– Já atendemos e mais de 76% dos casos de alta complexidade do Estado são realizados aqui na Santa Casa de Maceió. São os casos de oncologia, medicina nuclear, cardiologia, nefrologia. Em algumas especialidades, como a radioterapia, 95% dos pacientes que precisam dela, vem realizá-las aqui no hospital. No caso de oncologia, quimioterapia, mais de 80% dos pacientes é do SUS. Os casos de oncologia clínica, os atendimentos da Santa Casa representam 76% de todo o Estado. Na medicina nuclear esse índice é de mais de 70%, em cardiologia mais de 75%. Então a Santa Casa dá um suporte muito grande aos pacientes do SUS, principalmente aos pacientes de alta complexidade.
– Por que decorre tanto tempo entre um e outro transplante cardíaco?
– É problema de conscientização da população. O transplante cardíaco só pode ser realizado se houver algum doador. Eu acredito que a demora seja em função da falta de conscientização das pessoas em doar órgãos. Isso tem melhorado muito, mas ainda se precisa trabalhar muito junto à população. Quando um transplante de coração acontece, há um destaque maior do que os outros transplantes e quando há essa publicidade, quando isso é divulgado, se desperta o interesse e novos doadores podem surgir. Nós temos esperança que isso possa acontecer porque nada paga o riso nos olhos de uma pessoa que recebeu um coração novo.
– O que avançou na Santa Casa, na área de transplante de órgãos?
– A Santa Casa há 30 anos faz transplante de rim e há 25 anos faz transplante de coração. Nós entendemos que poderíamos avançar mais, nós nos preparamos para captação. Hoje temos uma equipe pronta para captação de transplante de fígado, mas ainda não existe no Estado uma equipe autorizada para realizar o transplante de fígado, que é mais delicado. Além da Santa Casa, o Hospital do Açúcar também tem uma equipe pronta para captação desse órgão. Aqui, realizamos transplantes de rim e de coração.
– Qual a posição da Santa Casa hoje no cenário dos hospitais beneficentes?
– A Santa Casa é um hospital que tem se destacado nos últimos anos e graças ao despertar bem cedo para sustentabilidade. Ano passado recebemos o prêmio da 5ª melhor empresa de sustentabilidade no país. Concorremos com grandes empresas como o Hospital Sírio Libanês, Albert Einsten e outros. No que diz respeito aos hospitais filantrópicos, a Santa Casa de Maceió tem apresentado bons resultados com relação à sustentabilidade. Nós temos nos orgulhado muito. Em relação às Santas Casas, estamos entre as 26 maiores do Brasil.
– Existe algum projeto novo (alguma unidade de tratamento) em cogitação para curto prazo?
– Desde que estou a frente da provedoria, há 6 anos, temos procurado expandir, principalmente na área de SUS. Esse ano, adquirimos o antigo Hospital Monte Cristo e resolvemos transformá-lo em unidade exclusivamente para o SUS. O Nossa Senhora da Guia é um hospital voltado a mulher e a criança. Temos dois obstetras de plantão, dois pediatras e um anestesiologista e oito leitos de unidade intermediária para atender a média complexidade em obstetrícia. Além desse, no dia 25 de setembro vamos inaugurar uma unidade de docência assistencial também voltada exclusivamente para o SUS: o ambulatório Rodrigo Ramalho, localizado na antiga Secretaria Municipal de Saúde, na praia do Sobral.
– Por que Alagoas tem menos planos de saúde do que estados como Sergipe e Paraíba?
– Temos hoje 8,55% da nossa população com plano de saúde. É uma das questões que nos angustiam muito. Em Maceió há 270 mil usuários de planos de saúde e no interior do Estado temos um pouco mais de 50 mil usuários. O percentual em Sergipe é maior, na Paraíba é maior e bem maior é o percentual do Rio Grande do Norte (RN). Enquanto temos 270 mil usuários aqui, no RN, com a mesma população, há 402 mil segurados. Esse também é um problema cultural. Não é que a nossa população seja mais pobre do que a do RN, o que falta é mais agressividade para captar mais usuários para os planos de saúde, sobretudo no interior do Estado.
– A Santa Casa de Maceió também sofre com o fluxo desordenado de pacientes vindos do interior?
– A Santa Casa de Maceió é o hospital que mais atende os pacientes do interior. É o único hospital do Estado que atende todos os municípios. Nós verificamos que num total da pacientes internados na Santa Casa, 50% deles são pacientes do interior, principalmente no que se refere aos casos de alta complexidade.
– Qual a avaliação que o sr faz sobre a gripe suína? A situação está sob controle, como diz o secretário Hebert Motta?
– A gripe suína chegou e vai permanecer. As posições do Ministério da Saúde têm sido muito equilibradas e isso fez com que a pandemia não virasse uma situação de desespero. Há uma tranqüilidade que não existe nos outros países. Não há a ignorância do fato como acontece nos EUA, onde os números não são divulgados. No Brasil ela tem criado um problema maior no Sul, pela proximidade com a Argentina e Uruguai e também por causa do clima. Em Alagoas, somos o hospital referência. No entanto, aqui não estamos sendo tão acometidos pela influenza A como nos outros estados. Temos controlado a doença. Vejo a situação sob controle, comparada à de outros estados.
– Quantos funcionários trabalham atualmente na Santa Casa, entre médicos, enfermeiros e pessoal de apoio?
– São 1.755 com carteira assinada, considerando a Santa Casa e o Nossa Senhora da Guia (antigo Monte Cristo). Funcionários terceirizados são 250, totalizando 2.100. Médicos são 400 (autônomos que trabalham na Santa Casa sem serem contratados). As áreas de contratação médica são os plantonistas, os da medicina do trabalho e os da auditoria. Os 250 funcionários terceirizados estão nos setores de higienização, lavanderia e produção de nutrição.
– Quanto a instituição despende com salários e assistência aos seus trabalhadores?
– Em torno de R$ 2 milhões/mês.
(*) Conteúdo publicado no Jornal Primeira Edição no dia 24 de agosto de 2009. Autorizada a reprodução.
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