“Hospitais devem investir em qualidade e em planejamento”, diz Cícero Péricles
Na sua opinião, quem mais injeta recursos e gera empregos em Alagoas? A indústria sucroalcooleira e química ou as empresas de pequeno e médio porte junto com os programas de transferência de renda como o Bolsa Família?
Se você escolheu a primeira opção, errou e muito, pois, segundo o economista e pesquisador alagoano Cícero Péricles, a legislação conhecida como Lei Kandir isenta de impostos estaduais e municipais os insumos e produtos voltados para a exportação, o principal foco desses dois setores em Alagoas. Ou seja, as empresas destes segmentos contribuem pouco com impostos.
No tocante à geração de postos de trabalho o cenário é o mesmo: o moderno setor químico emprega menos por causa da tecnologia e o sucroalcooleiro paga pouco devido a falta dela. Esses e outros mitos da evolução econômica de Alagoas foram esclarecidos por Cícero Péricles em palestra ministrada na última segunda-feira (12) na reunião mensal dos membros da Mesa Administrativa da Santa Casa de Maceió.
Pela primeira vez, inclusive, o encontro foi aberto aos coordenadores e lideranças da instituição e aos representantes de outros centros hospitalares, como Emílio Silva, do Hospital Santa Rita (Palmeira dos Índios); e José Lídio Lira, do Hospital Memorial Arthur Ramos, de Maceió.
No tocante ao setor saúde, a principal mensagem deixada por Cícero Péricles foi a necessidade dos estabelecimentos de saúde implantarem uma gestão voltada para a qualidade. A palestra do renomado economista teve como objetivo preparar o corpo executivo e as lideranças da Santa Casa de Maceió para o encontro do planejamento estratégico, que ocorrerá agora em janeiro. “Os hospitais alagoanos precisam preparar-se para enfrentar os desafios no competitivo mercado da saúde privada”, disse Péricles, referindo-se às cidades de Recife, Aracaju e Salvador, que já investem neste segmento. Questionado sobre como as empresas devem preparar-se, Cícero Péricles respondeu com uma palavra: planejamento.
Números – Em sua palestra, rica em números e em análises, Cícero Péricles desfez o mito de que o segmento sucroalcooleira e a indústria química são os setores que mais movimentam a economia alagoana. O Bolsa Família, a Previdência Social e as micro e pequenas empresas são mais importantes para a formação do mercado consumidor e na arrecadação de impostos do que o açúcar, o álcool e o plástico.
“O principal setor da economia alagoana é a rede de comércio e a área de prestação de serviços privados e públicos. Juntos formam o principal bloco econômico urbano e representam 72% da riqueza local, sendo 55% na área de serviços e 17% nas várias formas de comércio. O setor sucroalcooleiro – agricultura e indústria juntos -, produz menos de 20%”, disse Cícero Péricles.
Para se ter uma ideia, foram criados em Alagoas mais de 70 mil micro e pequenas empresas até este ano, correspondendo a 86% das empresas formalizadas. Por sua vez, o Bolsa Família atende a 1,4 milhão de alagoanos, injetando na economia estadual R$ 30 milhões/mês. Do outro lado, os cerca de 60 mil trabalhadores que atuam no corte da cana revelam-se um contigente considerável, porém mal remunerado, percebendo 5 reais por tonelada de cana. Já a moderna planta de PVC da Braskem gerou apenas 200 empregos diretos.
“No tocante ao ICMS, o comércio varejista arrecada mais impostos que a Braskem e as usinas de açúcar e álcool, por isso, o imposto que o Estado arrecada mal dá para cobrir a folha salarial. Resultado: o tesouro estadual fica sem recursos para investimentos e dependente das transferências federais para fechar suas contas”, finalizou.
Deixe uma resposta