Tratamento de dissecção da aorta tem resultados cirúrgicos positivos
Uma dor forte no lado esquerdo do peito que pode irradiar para o pescoço, costas ou abdômen. Pensou em infarto? O caso pode ser ainda mais grave. Trata-se de uma dissecção de aorta, lesão na parede interna da artéria que se inicia no coração e recebe todo o fluxo sanguíneo que então se propaga pelo corpo. O socorro médico deve ser imediato com grandes chances de uma cirurgia de emergência.
No dia 27 de janeiro, na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, os cirurgiões cardíacos Eolo Ribeiro de Alencar, Glaucio Mauren Gerônimo e Rafaela Sales operaram dois pacientes que internaram pela emergência do hospital: a primeira, uma mulher de 56 anos, o segundo paciente, um homem de 67 anos, que há nove anos foi submetido a uma revascularização miocárdica e implante de válvula aórtica e que subitamente evoluiu com este quadro de dor intensa e rasgante no peito.
De acordo com Eolo Alencar, essa cirurgia é um dos poucos procedimentos cardíacos realizados de forma emergencial. “Essa patologia tem um tratamento complexo. Principalmente, na aorta ascendente e transversa, onde poucos centros do Brasil conseguem ter resultado positivos por ser um procedimento cirúrgico que envolve grande complexidade cirúrgica, técnica e tática, associado a um suporte hospitalar de alta complexidade. Mas temos tido bons resultados na instituição”, disse o coordenador do Serviço de Cirurgia Cardíaca da Santa Casa de Maceió.
Quando a aorta é dissecada, o sangue invade suas camadas, a partir da camada interna, forçando um caminho que separa a camada mais interna da camada média. Essa condição é gravíssima pois pode diminuir a irrigação em determinados órgãos ou, nos casos mais extremos, provocar o rompimento da camada mais externa, levando à hemorragia, necessitando atendimento imediato.
A dissecção de aorta é a patologia de maior mortalidade entre as síndromes aórticas agudas com início súbito de dor torácica. Quando acomete a porção inicial da aorta, a chamada aorta ascendente, esta mortalidade é de cerca de 1 a 2% por hora, nas primeiras 48 horas, chegando a 75% ao final da segunda semana. Menos de 10 % dos pacientes não tratados sobrevivem por um ano.
“Quando você tem o acometimento da dissecção aórtica ascendente envolvendo os vasos da base (tronco braquiocefálico, carótida esquerda e subclávia esquerda), o risco é ainda maior, pois a cirurgia torna-se ainda mais complexa, com a necessidade de técnica e planejamento cirúrgicos muito delicados, como a indução de hipotermia profunda e parada circulatória total para confecção das anastomoses e correção da lesão. Até pouco tempo, a mortalidade pós-operatória altíssima, pois os pacientes, em sua maioria, sangravam devido aos distúrbios de coagulação ou tinham problemas renais e neurológicos incontroláveis. No Brasil, se formos contar os centros que conseguem realizar esse tipo de cirurgia, com resultados satisfatórios, não chegaríamos nem a 15”, explicou Glaucio Gerônimo.
Para alcançar resultados positivos é necessária uma boa retaguarda para receber este tipo de paciente. “Os hospitais que conseguem ter resultados favoráveis são de excelência. Hospitais formadores. Para se conseguir um resultado bom nesse tipo de cirurgia é preciso que os profissionais ligados ao tratamento do paciente (Emergência Cardíaca, cardiologistas, UTI e Hemodinâmica, enfermagem, fisioterapia, nefrologia, infectologia, neurologia e radiologia) estejam interligados e participando do tratamento. Nesse processo, fica claro que o Serviço de Cardiologia da Santa Casa de Maceió está muito bem preparado para receber pacientes com essa patologia”, disse Eolo Ribeiro.
Diagnóstico precoce é determinante para socorro adequado
Nas Emergências hospitalares, os primeiros sintomas apontados pelo paciente já ligam o alerta da equipe. Dor forte e súbita, com a sensação de rasgo (facada), mostram que a complicação é urgente. O diagnóstico precoce é feito com exames de ecocardiograma e angiotomografia (para ver a extensão da lesão). “Rapidamente, a equipe de cirurgia é acionada e se prepara para tratar uma doença, que não só é multifatorial, mas que tem vários espectros, pois pode estar mais localizada, num segmento específico da aorta, ou pode se estender como citado anteriormente, e isso exige da equipe uma desenvoltura satisfatória para a resolução do caso”, disse o cirurgião cardíaco Glaucio Mauren Gerônimo.
Após o primeiro atendimento, e com o diagnóstico confirmado, a equipe médica fez um planejamento para um paciente que precisa de um controle rigoroso de frequência cardíaca e de pressão. Ele é monitorizado, desde o início, em ambiente de UTI, e segue na unidade intensiva até a cirurgia. No pós-operatório, retornando à UTI, o atendimento é multidisciplinar, com atenção especial à fisioterapia e disfunções orgânicas que possam estar presentes, como distúrbio de coagulação e alteração da função renal, o que necessita de uma série de profissionais envolvidos para o êxito e evolução satisfatória do paciente tratado.
Muitos dos casos de dissecção aórtica, principalmente, os que envolvem a aorta ascendente, têm apresentação na fase adulta jovem em torno dos 45 e 65 anos de idade, onde há maior risco de ruptura e consequente óbito. “Muitas vezes, é aquele paciente que está bem, que sabe ser hipertenso, mas que não faz o controle adequado da pressão. A doença evolui ao longo dos anos até que, de uma hora para outra, apresenta esta dor torácica súbita, como que rasgando o peito, o que corresponderia ao instante em que há o início da dissecção da parede da aorta. É neste momento que o paciente procura a emergência, sendo por vezes o primeiro contato com o hospital em razão de um problema cardíaco”, afirmou Gláucio Gerônimo.
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