Neurologista Abynadá Lyro recebe homenagem após 48 anos de trabalho
Era 1972, o pernambucano Abynadá Siqueira Lyro, ao retornar de sua especialização na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), aceitou o convite do provedor da Santa Casa de Maceió, Sizenando Nabuco, e do diretor médico da instituição, João Fireman, não apenas para trabalhar no hospital alagoano, mas para implantar uma área especializada em neurologia.
Passados 48 anos, a Santa Casa de Misericórdia de Maceió tornou-se referência na área ao estruturar o Serviço de Neurologia e Neurocirurgia com um centro cirúrgico, equipe de profissionais qualificados para atender pacientes com os mais diversos problemas neurológicos, e uma Unidade de Terapia Intensiva específica para atender esses casos.
Na mesma época, o jovem neurologista e neurocirurgião também havia sido convidado para lecionar na então Escola de Ciências Médicas, hoje Uncisal (do Estado), e na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Bastante avançada nos grandes centros, as duas especialidades careciam de profissionais em Alagoas.
Na manhã de sexta-feira (31), o diretor médico da Santa Casa de Maceió, Artur Gomes Neto, membros da equipe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia e colaboradores da instituição homenagearam o decano da especialidade em Alagoas, que se aposentou após quase cinco décadas de um trabalho incansável na formação profissional de várias gerações de neurologistas e neurocirurgiões que atuam dentro e fora do estado.
“Não esperava por essa homenagem com a participação de amigos, colegas e ex-alunos. Não tenho palavras sobre esse momento”, disse o homenageado.
Quase cinco décadas de trabalho – Depoimentos:
Artur Gomes Neto – diretor médico da Santa Casa de Maceió
“Há 37 anos fui aluno dele e reconheço que tive o melhor professor de neurologia que poderia ter. Uma pessoa que me transmitiu conhecimento que ficaram sedimentados na minha memória, e que uso até hoje na minha vida como médico e me ajuda muito. Isso faz com que essa tradução de qualidade seja bem definida num professor – que sem recursos visuais como hoje – transmitiu tanto conhecimento e coisas importantes na área para um cirurgião de tórax. Eu falo com muito prazer a respeito do professor Abynadá, do amigo que me aconselhou durante minha vida como acadêmico e médico, e que teve uma importância muito grande para minha entrada na Santa Casa de Maceió e minha fixação como coordenador de serviço no hospital. Hoje, como diretor médico da instituição, considero uma perda sua ausência nesse momento, mas ele deixou um legado de pessoas que foram formadas e de alguma forma viram em seu caráter, na sua honra, motivo para ficar na instituição”.
Aldo Calaça – neurocirurgião
“Minha caminhada profissional sempre esteve vinculada ao seu nome. Na Escola de Ciências Médicas, eu era o aluno do professor Abynadá. Na minha residência médica, eu era o ex-aluno do professor Abynadá. Na Inglaterra, eu era o ex-aluno do professor Lyro. Quando retornei para Maceió, para a Santa Casa de Misericórdia de Maceió, eu era o menino que trabalhava com o Dr. Abynadá. Sempre estivemos juntos, sempre estivemos em contato e eu posso dizer que nós crescemos ao longo do tempo. Seu espírito de pioneirismo está presente em cada um que faz a Neurocirurgia da instituição. O fundamento é ajudar as pessoas e estamos aqui dando continuidade ao seu trabalho”.
João Pedro Jatobá – neurocirurgião
“Temos que agradecer toda a dedicação que o Dr. Abynadá Lyro teve durante esses anos na neurologia e neurocirurgia. Sempre nos ensinando e trazendo coisas novas para que pudéssemos aperfeiçoar nossos conhecimentos na área”.
Igor Farriquini- presidente da Sociedade Nordestina de Neurocirurgia
“Em nome de toda a Sociedade Nordestina de Neurocirurgia agradeço todos os anos de dedicação à nossa especialidade, sempre compartilhando conhecimentos e ensinando gerações diversas de residentes, mantendo o seu legado através dos mesmos. Mais uma vez, agradeço por tudo aquilo que realizou pela neurocirurgia alagoana, nordestina e brasileira. Desejamos que possa desfrutar amplamente de sua merecida aposentadoria e tenho sempre sucesso e quaisquer que sejam os empreendimentos”.
José Carlos Moura – neurocirurgião
“Em 1976 comecei minha residência em Recife e recebia muitos pacientes que Adynadá encaminhava, casos mais complexos que ainda não se resolviam na capital alagoana. Eu recebia os laudos e admirava o trabalho que ele estava iniciando. Numa certa ocasião avisaram que o professor Abynadá estava no hospital acompanhando um paciente e fui procurá-lo. Dr Ian Pester nos apresentou e perguntou se nós já nos conhecíamos. Foi quando respondeu que sim, mas de laudo. Durante a conversa, o questionei porque não estava em Pernambuco. Ele me falou que foi para Maceió por ter se formado para ajudar pessoas e aqui já tinha muita gente para ajudar. Em Alagoas não tinham neurologistas e ele seria mais útil à comunidade. Fiquei pensando nisso”.
Ian Pters
“Conheço Abynadá há quatro décadas. Ele começou a vida como apontador de cana em uma usina em Pernambuco, depois foi para Recife e iniciou os estudos, ficando hospedado numa pensão na Praça Sérgio Loreto. Seguiu adiante e começou o curso de Medicina fazendo residência médica no Rio de Janeiro. Lá recebeu o convite de Salustiano para iniciar um Serviço de Neurologia e Neurocirurgia em Maceió. Desafio e convite aceitos. De fato, um grande desafio o de enfrentar especialidades sem encefalograma, nem tomografia. Seguiu adiante ajudado por Cristina, sua esposa, e terminou fazendo um concurso de catedrático da cadeira de Neurologia sendo o responsável pela formação de uma grande equipe de neurologistas que hoje representam a especialidade em Maceió. Então é com certeza e tranquilidade que pode dizer que combateu o bom combate”.
Flávio Leitão
“Tem sido uma bonita caminhada sua caminhada, construída com o trabalho diuturno e grandioso em favor da neurocirurgia nordestina. Seus colegas neurocirurgiões, que você tão elegantemente acolheu, o que o digam. Na minha opinião vencestes o bom combate. Espero que juntamente com Cristina você permaneça por muitos anos colhendo os bons frutos de sua dedicação à Medicina”.
Flávio Leitão Filho
“O conheci em 1980 na fundação da Sociedade Nordestina de Neurocirurgia (SNN) no Rio Grande do Norte, em Natal. Um homem devoto à família, pai de dois filhos e que acabou sendo líder em sua região. Essa liderança, felizmente, estendeu-se por todo o Nordeste e ele então assumiu a presidência da Sociedade por duas vezes. Quando a chama da SNN estava quase fechando, ele conseguiu soprar o hálito de esperança e de sabedoria e conseguiu revivê-la. Também sou muito grato a ele, pois, com, seu apoio, consegui ser presidente da Sociedade Nordestina de 2015/2017. Hoje a sabedoria pede que ele descanse um pouco e passe ajudar a quem precisa de outra maneira, mas, certamente não vai parar de ajudar ao próximo”.
Benjamim Pessoa – neurocirurgião
“Mestre Abynadá, sua trajetória fala por si. De Caruaru levaste os princípios sólidos da arte de mestre Vitalino. Apaixonou-se pela neurocirurgia, seguiu os caminhos de Jorge de Lima como acendedor de lampião, parou no mar de Maceió e ancorou seu barco na Pajuçara. Além de ser acendedor de lampião, fostes além. Foi espelho para uma geração de cirurgiões, aliás, várias gerações, como a minha, que seguimos seus passos observando os exemplos. Caminhamos lentamente nas suas pegadas. Hoje, no seu aposento da cirurgia, que não é uma despedida, mas apenas uma parada momentânea, que seus conhecimentos e no clarão muito além do mar de Maceió muito além do limite do nordeste você será sempre o mestre Abynadá Lyro, o velho Abynadá, meu grande amigo”.
Dona Cristina – esposa
“Já são mais de 53 anos de convivência. Sendo ele de Caruaru e eu de Fortaleza nunca moramos na mesma cidade a não ser depois de casados. Maceió foi escolhida por nós e se tornou o lugar onde criamos os nossos dois filhos Tito e Thais. Tendo sido o Abynadá o pioneiro da neurocirurgia no estado de Alagoas sua vida profissional foi sempre de muito trabalho e também de realizações. Durante algum tempo foram 24 horas de sobreaviso sete dias por semana, depois aulas nas duas faculdades de medicina existentes a época em Maceió, viagens para congressos, produção de trabalhos científicos, publicação de livros, organização de reuniões científicas e muito, muito trabalho. Neste momento em que suspende suas atividades profissionais tenho certeza de que ele se sente pleno por tudo o que conseguiu realizar”.
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