Santa Casa de Maceió homenageia decanos da Medicina alagoana
Ao comemorar 160 anos de fundação, a Santa Casa de Maceió homenageou na noite deste sábado (22) seis médicos alagoanos que ajudaram a desenvolver a Medicina praticada na instituição.
Conforme lembrou o provedor Humberto Gomes de Melo, em jantar-dançante nos jardins do Hotel Jatiúca, “os homenageados são médicos com mais de 70 anos que ajudaram a construir a história da Santa Casa de Maceió”, disse o executivo, saudando a todos na abertura do evento.
“No passado ou no presente, a Santa Casa de Maceió é a instituição que mais atende a população alagoana, seja a quem tem plano de saúde, quem recorre ao atendimento particular ou utiliza os serviços do SUS”, discursou o provedor.
Ao encerrar suas palavras, o provedor Humberto Gomes partilhou com os presentes o seu orgulho com uma reportagem veiculada no Jornal Hoje, da Rede Globo, sobre o Hospital Nossa Senhora da Guia.
Com duração de dois minutos, a matéria apresentou para todo o País, o projeto Momento na Redinha, implantado na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI neonatal).
A iniciativa permite que os recém-nascidos durmam em pequenas redes de tecido hipoalergênico “simulando o espaço intrauterino, o que acalma e ajuda no desenvolvimento dos recém-nascidos”, afirmam as fisioterapeutas Gabriela Noya e Sarah Suênya, articuladoras do projeto.
Em breves palavras, o diretor médico da Santa Casa de Maceió, Artur Gomes Neto, saudou os médicos alagoanos pela passagem do seu dia, lembrando que a comemoração poderia ser melhor se as operadoras de plano de saúde revisassem as tabelas de remuneração. Quanto à Santa Casa de Maceió, citou os investimentos em formação profissional, em tecnologia e em infraestrutura, valorizando ainda mais a prática médica.
A primeira homenagem da noite foi “in memoriam”, recebida pela família do médico Ednor Valente Bittencourt, falecido em 1999. Coube a seu amigo, o médico Duílio Marsiglia, presidente do Centro de Estudos Professor Lourival de Melo Mota, tecer algumas breves palavras sobre o homenageado. É um justo reconhecimento a quem fez tanto pela Medicina”, disse Marsíglia.
Um dos mais emocionados foi o pediatra José Gonçalves Sobrinho, que precisou da ajuda do jornalista Maurício Gonçalves para agradecer a distinção. Também receberam o troféu e os aplausos dos presentes, os médicos Edinar de Mello Barbosa, Felix Oiticica Lima, Cleto Cavalcante Ferro e Maria Jacinta Voss de Villanueva.
Confira a seguir um breve relato histórico sobre cada um dos homenageados.
Dr. Ednor Valente Bittencourt
O médico Ednor Valente Bittencourt nasceu no município alagoano de Anadia em 11 de janeiro de 1920. Filho de Anthenor Bittencourt e de Maria Olga Valente Bittencourt, o dr. Ednor Valente atuou como professor, médico e, por herança de família, pecuarista.
Cursou o primário no Grupo Escolar Fernandes Lima prosseguindo os estudos no Liceu Alagoano. Em 1942, prestou exame vestibular na Faculdade de Medicina da Universidade de Recife, formou-se em 1947.
Retornou a Alagoas em 1948, onde iniciou suas atividades como médico generalista. Ao encerrar sua atuação em 1992, o dr. Ednor Valente contabilizou 44 anos de dedicação à prática médica e aos seus pacientes, tornando-se exemplo para seus pares.
O dr. Ednor Valente assumiu o cargo de professor-adjunto de Clínica Médica na Faculdade de Medicina da UFAL e recebeu o título de especialista em Medicina Interna da Associação Médica Brasileira e de Médico do Trabalho pela UFAL e Ministério do Trabalho.
Membro titular da Associação Médica Brasileira e da Sociedade de Medicina de Alagoas, trabalhou em órgãos como a Junta Médica Estadual, o Instituto dos Marítimos, a Delegacia do Ministério da Agricultura e o antigo Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência (Sandu).
O dr. Ednor Valente atuou também na Faculdade de Medicina de Alagoas, na Sociedade de Medicina de Alagoas, no Conselho Regional de Medicina e na Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, onde foi um dos fundadores e vice-presidente. Também fundou a secção estadual da Sociedade Brasileira de Cardiologia e trabalhou na Santa Casa de Maceió, onde atuou como médico adjunto.
Durante toda sua vida, Dr. Ednor Valente publicou diversas obras, indo de textos médico-científicos, passando pelos contos, memórias e chegando à mitologia da Medicina grega.
Dr. Ednor Valente foi eleito em 17 de setembro de 1998 para a cadeira de número 13 da Academia Alagoana de Letras. Infelizmente, não conseguiu vivenciar este importante momento de sua vida, pois faleceu nove dias antes da data em que iria ser empossado como imortal.
Para todos aqueles que o conheceram e para as novas gerações, seu exemplo, como médico e literato, permanecerá para sempre entre nós.
Dra. Maria Jacinta Voss de Villanueva
A médica Maria Jacinta Voss de Villanueva formou-se em dezembro de 1964, numa das primeiras turmas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas.
Concluiu Residência Médica em Pediatria no Hospital Darci Vargas, em São Paulo, onde teve a oportunidade de aprender e partilhar conhecimento com profissionais de todo o País.
Trabalhou como médica pediatra do Ministério da Saúde e perita do INSS durante 30 anos. No Serviço de Pediatria da Santa Casa de Maceió permaneceu 25 anos, ajudando não somente a salvar vidas mas também a formar os acadêmicos que buscavam ampliar seus conhecimentos na instituição.
A Dra. Maria Voss de Villanueva representa uma geração de médicos formada nos anos 60 que, a despeito de todas as dificuldades inerentes àquele conturbado período, exerceu seu mister com profissionalismo, empenho e, sobretudo, humanismo.
Exemplos como o da Dra. Maria Voss de Villanueva justificam iniciativas como esta, da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, de homenagear os médicos que fizeram e fazem parte da história da instituição.
Dr. Cleto Cavalcante Ferro
Filho de João Abílio Ferro e de Josefa Cavalcante Ferro, o médico Cleto Cavalcante Ferro foi um dos cidadãos do município de Bom Conselho a deixar o solo pernambucano em busca de uma formação profissional em Alagoas. Iniciou pelo curso primário e ginasial em Palmeira dos Índios. Depois, concluiu o científico em São Paulo.
Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas em 1968, o ginecologista e obstetra Cleto Cavalcante iniciou sua carreira na Maternidade Sampaio Marques, da Santa Casa de Maceió. Era a época em que os mestres reuniam seus melhores alunos para transmitir o conhecimento e a prática médica.
Titulado especialista em ginecologia e obstetrícia em 1979, o dr. Cleto Cavalcante atuou ainda em diversos hospitais, maternidades e órgãos federais em Alagoas, entre eles o INSS, o antigo INAMPS, a Secretaria Estadual de Saúde, as maternidades Santa Lúcia, Santo Antonio e São Sebastião e o Hospital do Açúcar, onde encerrou suas atividades profissionais em 2007.
Mesmo já tendo alcançado o reconhecimento de seus pares e da sociedade, o dr. Cleto Cavalcante nunca deixou de aprender e de atualizar seus conhecimentos. Por isso, participou avidamente de inúmeros congressos, simpósios e jornadas, evitando a armadilha comum dos que se dedicam apenas à rotina do consultório.
O zelo com as pacientes, mães, gestantes e puérperas marcou sua vida profissional. O seu exemplo deve inspirar os egressos da Faculdade de Medicina de Alagoas, que hoje contam com a tecnologia a seu favor, uma realidade bem diferente da que vivenciou a geração do dr. Cleto Cavalcante. Naquela época, o conhecimento pessoal do médico era a verdadeira tecnologia da Medicina a favor da vida.
Dr. Felix Oiticica Lima
Filho de Felix Lima Junior e de Margarida Oiticica Lima, o médico Felix Oiticica Lima graduou-se pela Universidade Federal de Alagoas em 1966, prosseguindo seus estudos no Departamento de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
O médico Felix Oiticica especializou-se em Medicina do Trabalho pela Universidade Federal de Alagoas em 1975 e, no ano seguinte, obteve o título de especialista em Ortopedia e Traumatologia.
Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia do Pé, dr. Felix Oiticica Lima foi um dos fundadores da regional alagoana da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
Dedicou sua vida aos pacientes da Santa Casa de Maceió assim como aos pacientes atendidos no antigo Pronto Socorro e na Unidade de Emergência, local onde trabalhou durante longos 30 anos.
Muitas vidas passaram por suas mãos. Muitos acidentados foram atendidos em situação de extrema dor no velho Pronto-Socorro, que depois tornou-se Unidade de Emergência.
Vale ressaltar que não foram apenas 30 dias de trabalho, mas 30 anos. Uma vida inteira dedicada a pacientes de rostos desconhecidos, vítimas de acidentes provocados pelo acaso e ou por seus próprios atos.
Trabalhar sob pressão num ambiente como o da Unidade de Emergência não é para qualquer um. Por isso, é inegável que o Dr. Felix Oiticica era o homem certo, na profissão certa, no lugar certo. Ele marcou seu lugar na história Médica alagoana justamente por se dedicar afinco às missões a ele confiadas. Neste momento convidamos o Dr. Felix Oiticica Lima para receber o seu troféu.
Dra. Edinar de Mello Barbosa
Graduada pela Universidade Federal de Alagoas, a médica Edinar de Mello Barbosa obteve em São Paulo o título de especialista em ginecologia e obstetrícia.
Atuante desde 1960 em importante clínica particular de Maceió, a Dra. Edinar Barbosa recebeu em 2004, na capital paulista, o Prêmio Brasil de Medicina – The Bestin Medicine of Brazil.
Atuou como Secretária e Tesoureira da Sociedade de Medicina de Alagoas, foi presidente da Sociedade Alagoana de Ginecologia e Obstetrícia em dois mandatos e trabalhou como médica do antigos INSS e do Sandu.
Por dez anos foi assistente do dr. Abílio Antunes na Santa Casa de Maceió, hospital onde desenvolveu com maestria a sua prática médica.
Na companhia de seu mestre, a dra. Edinar de Mello aprendeu muito, mas também ensinou muito. Mostrou como o profissional médico deve trabalhar numa instituição filantrópica, atendendo seus pacientes com zelo, empenho, ética e profissionalismo.
Quantas crianças vieram em segurança ao mundo por suas mãos? Quantas mulheres depositaram suas vidas e sua saúde aos cuidados desta médica exemplar? Quantas madrugadas foram vivenciadas numa sala de parto e quantos momentos de sua vida particular tiveram de ficar em segundo plano em prol do nascimento de uma vida? A resposta a essas perguntas só esta gentil senhora, a Dra. Edinar de Mello Barbosa, poderá responder.
Sua história na Santa Casa de Maceió e na Medicina alagoana deve inspirar as novas gerações de médicos e médicas.
Dr. José Gonçalves Sobrinho
Reconhecido como um dos mais influentes pediatras de Alagoas e do Brasil, dr. José Gonçalves Sobrinho sempre foi muito requisitado pela população alagoana. Ele chegava a atender pacientes das 6h da manhã às 9h da noite em seu consultório, nunca deixando de atender as famílias carentes que o procuravam. Ao longo da carreira se engajou em atividades de pesquisa e projetos sociais nas grotas e favelas para combater a desnutrição, incentivar o aleitamento materno e reduzir a incidência de verminoses.
Nascido em 1940 no povoado de Pacas, no município de Bom Conselho, Pernambuco, o garoto criado na zona rural reforçou os estudos em Palmeira dos Índios e chegou a Maceió com o objetivo inabalável de se tornar médico. Foi aprovado em 1º lugar no vestibular da Faculdade de Medicina em 1958. Enquanto se entregava aos livros para concretizar o sonho de menino, tornou-se professor em vários colégios da capital alagoana para melhorar a renda da família.
Além da atuação clínica, o pediatra também se destaca pelos trabalhos desenvolvidos como professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e pelas atividades de pesquisa. Aprovado para residência médica na Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto-SP, conseguiu o feito de transformar a pós-graduação em doutorado e concluí-los num período de três anos. A tese obteve nota 10 com distinção e louvor.
Atuando na Sociedade Brasileira de Pediatria, Gonçalves militou pela criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, transformado em lei em 1990. Pouco tempo depois contribuiu para a implantação do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e foi aclamado como o seu primeiro presidente. Também é um dos fundadores da Sociedade Alagoana de Pediatria (SAP) e da Academia Alagoana de Medicina.
Deixamos para citar no final desta mensagem a atuação do dr. José Gonçalves Sobrinho em benefício das crianças carentes e dos portadores de Síndrome de Down. Ele foi a semente que fez germinar a Família Alagoana Down, associação criada em 1990, após várias reuniões realizadas em sua casa. A entidade beneficia até hoje dezenas de famílias carentes.
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