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ARTIGO: “Remuneração é reconhecimento, e não um fim em si mesma”

Artur Gomes Neto, diretor médico da Santa Casa de Maceió

Artur Gomes Neto, diretor médico da Santa Casa de Maceió

Quando falamos em valorização profissional pensamos logo em vencimentos, algo ligado a valor monetário. Na verdade, valorização profissional, tem todo um conjunto de variáveis onde a remuneração é fator de reconhecimento, e não de fim.
Uma parcela da classe médica tem agido, ao longo dos anos, de uma maneira que fere os princípios da medicina de Hipócrates. O ganhar tornou-se imperativo, independente dos meios. Temos esquecido dos mais necessitados, virando-lhes as costas, atribuindo toda a responsabilidade em oferecer um tratamento digno aos gestores da saúde. Temos perdido a dignidade e o sentimento de amor aos mais necessitados.
Frequentemente, vemos pacientes graves jogados à própria sorte, à busca de tratamento, encontrando as portas fechadas, o não como proposta terapêutica de uma doença grave, às vezes curável, evoluindo para um desfecho onde a dor e o sofrimento poderiam ter sido evitados, bastando uma atitude médica de desapego ao dinheiro, de amor ao próximo. Terceirizar a sua responsabilidade, atribuindo ao sistema toda a miserabilidade, parece ser a palavra de ordem. Uma vez convencido que sua atitude não é a motivação do desfecho ele consegue dormir tranquilo.
Noutras, recebem de empresas de artigos médicos, um percentual sobre materiais utilizados, muitas vezes superindicando a utilização dos mesmos; cobram por fora uma pseudo complementação de pobres coitados do SUS, uma agressão à ética, uma prática absurda de corrupção onde a imagem do médico é maculada.
As más práticas do exercício da medicina, o excesso de profissionais médicos, na sua maioria com formação a desejar, os altos custos gerados pelo mau uso da tecnologia em saúde, os pedidos indiscriminados de exames complementares, têm levado, por outro lado, as operadoras de saúde a tentarem minorar suas despesas. O meio mais fácil de um resultado de curto prazo está em achatar a remuneração do médico, o quê, por revolta ou por necessidade de manter-se, tem de atender mais e mais rápido, alimentando esse ciclo vicioso de banalização do sofrimento, da falta de ética, do erro médico e do ganho fácil.
Estamos vivendo uma explosão de movimentos por todo o país nas mais diversas especialidades, à busca de reajuste das tabelas de honorários, especialmente da CBHPM, que hoje é a única tabela reconhecida como padrão mínimo de ética pela AMB e pelo CFM(Resolução 1673/03). A falta de diálogo entre as operadoras e os profissionais médicos, tem levado a paralisações de atendimento e, até mesmo, à solicitação de descredenciamento do especialista ou de toda uma especialidade. O preço pago por uma consulta ou por um procedimento é, na maioria das vezes, aviltante, revoltante, diria até vergonhoso.
Diferentemente dos lutadores, em algumas cidades ou regiões do país, os movimentos médicos padecem de uma apatia intrigante, onde a atividade artesanal do ato médico é até remunerada pela tabela AMB 90 ou 92, inaceitável e abominável. Nessas localidades, alega-se que não haveria união, que furariam o movimento o que poderia ter repercussão nos vencimentos dos que aderissem; esses são os conformados. Tal comportamento tem retardado uma visão crítica por parte das operadoras, dificultando sobremaneira os resultados dos que lutam incessantemente, mesmo com risco de retaliações e perseguição pelas operadoras e hospitais; esses são os incansáveis desbravadores.
O que não percebemos com muita clareza é que estamos num processo de empobrecimento progressivo. As luzes de alerta já se acenderam há muito tempo, agora só enxergamos as vermelhas de perigo. Vacilar agora é certamente o acesso direto a sucumbência. Segundo o Dr. Luiz Carlos de Alencastro, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, carecemos de organização nessa luta, utilizando uma linguagem única com os mesmos objetivos, esperando que resulte em facilitação do atendimento ao paciente e maior reconhecimento profissional.
Finalmente, diante do exposto espero ter-me feito entender que valorização profissional está muito além do ganhar mais. O valor monetário não está agregado à valorização profissional, entretanto, quando se é valorizado pelo mercado, ser bem remunerado é uma consequência natural.
O que teremos de fazer como médicos para termos o reconhecimento do nosso valor diante das operadoras de saúde, dos nossos pacientes e de nós mesmos? Vamos transformar a conseqüência em objetivo, o meio em fim.
(*) Artur Gomes Neto é cirurgião torácico e diretor médico da Santa Casa de Maceió

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